Exemplo

Uma vida dedicada às crianças negras

Nascimento de Luciana de Araújo, a “Mãe preta”, completa 150 anos e seu trabalho de filantropia reflete até hoje na vida das crianças pelotenses

Reprodução -

O dia de 13 deste mês marcou os 150 anos do nascimento de Luciana Lealdina de Araújo, a “mãe preta”. Nascida em Porto Alegre, ela foi um ícone de filantropia e solidariedade em Pelotas, onde desenvolveu ações em prol das crianças órfãs e fundou o Instituto São Benedito, situado na rua Félix da Cunha, 909. Além do trabalho realizado na cidade, também prestou auxílio a crianças em Bagé, onde faleceu em 1930.

Tudo começa a partir do quadro de saúde de Luciana. Ela contraiu tuberculose, doença que estava bastante presente na sociedade brasileira no começo do século passado. Em 1900, quando já tinha 30 anos, ela veio até Pelotas em busca de assistência médica. Ao chegar no município e andar pelas ruas, se deparou com uma realidade que a entristeceu: o alto número de meninas negras sem um lar. Diante deste quadro, ela fez uma promessa a São Benedito, santo ao qual era devota. Jurou que, caso se curasse da enfermidade, iria construir uma casa para abrigar as meninas negras desamparadas. “Após a abolição, aconteceu que muitas famílias negras adoeceram. Mesmo em liberdade, as condições de vida não eram as melhores”, conta o coordenador do projeto Museu do Percurso Negro, Luis Carlos Matozzo. Ele ainda destaca que, na época, existiam outros orfanatos na cidade, mas não recebiam meninas negras. Na posição de agente da iniciativa, Matozzo realiza o resgate de personalidades negras que tiveram importante ações em Pelotas e que não recebem o devido destaque.

Curada da tuberculose, Luciana cumpriu o que prometeu ao santo. Em 13 de maio de 1901, na Praça da Matriz, atualmente Praça José Bonifácio, ela funda o asilo de órfãs São Benedito, que, anos mais tarde, se tornaria o Instituto São Benedito. Na época, a iniciativa era sediada no local onde hoje fica a casa 7.

No comando da instituição, desenvolveu um sistema de educação próprio, com ensinamentos de culinária e dança às crianças atendidas. Este modelo persistiu dentro do asilo até 1958, quando a organização educacional foi municipalizada, o que gerou a criação da Escola Municipal Luciana de Araújo. “É um feito que se realiza às portas da abolição da escravidão. Ela era uma mulher negra, de 31 anos, em uma cidade que teve todo um processo de escravidão como Pelotas, e que articulou um conjunto de pessoas para acolher meninas pretas. Nossa cidade foi uma das mais rudes no processo da escravidão. Ações de uma mulher forte como a Luciana são históricas. O feito da Luciana acontece neste contexto, que engrandece essa ação”, destaca Matozzo. 2020 marca ainda os 119 anos do Instituto.

Embora tenha sido filha de mãe escrava e crescido dentro desta realidade, Luciana nunca foi vítima do processo de escravidão. Nasceu um ano antes da promulgação da lei do Ventre Livre, em 1871. Entretanto, já foi encaixada nas prerrogativas da norma, o que fez com que não tenha passado pelo trabalho compulsório.

luciana de ara?jo - foto arquivo S?o Benedito
A porto-alegrense criou em Pelotas uma casa para abrigar meninas negras
(Foto: Arquivo - Instituto São Benedito)

Trabalho além de Pelotas

Ela permaneceu como diretora da instituição até 1908, quando se deslocou para Bagé. Sete anos depois de sua saída, a sede do Instituto se transferiu para onde funciona nos tempos atuais, na rua Félix da Cunha, 909. Na Rainha da Fronteira, Luciana seguiu com os trabalhos de filantropia. Fundou o orfanato São Benedito, o qual dirigiu até 1913, quando se desligou da administração e criou uma creche na cidade. Foi responsável pelo atendimento de crianças até sua morte, em 1930, aos 60 anos. Em 2015, a revista Ícones Negras a classificou entre as cinco mulheres pretas mais importantes da história brasileira. Ela ficou em 5º lugar, junto com personalidades como a cantora Zezé Motta e a atriz Ruth de Souza.

Escola prepara livro

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Luciana de Araújo, que comemora 70 anos no dia 4 de agosto, também trabalha para valorizar a figura da personalidade que dá nome ao educandário. A elaboração de um livro com a história de Luciana de Araújo está em andamento, mas depende de ajuda financeira. A ideia é resgatar seu legado, ainda pouco conhecido pela comunidade, através de uma obra lúdica, que será distribuída à rede municipal de ensino, para chegar, principalmente, às gerações mais novas. O levantamento histórico e as ilustrações estão em andamento, porém, ainda são necessários recursos para terminar o livro. Interessados em colaborar, como ex-alunos que estudaram no local, hoje médicos, advogados, professores e outros profissionais, podem entrar em contato com o telefone/Whats 99161-0110 e falar com a diretora Simoni de Ávila Tomaschewski.

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